Monday, December 8, 2008

Pragmatismo do consumidor cresce e aparece

Pragmatismo do consumidor cresce e aparece
Autor: Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral da GS&MD
Data: 08/12/2008
Contra as previsões dos analistas e jornalistas mais fatalistas, o consumidor tem reagido de forma pragmática ao vendaval de informações negativas que assola a mídia brasileira.A dramática retração do consumo que, se supunha, deveria mudar o comportamento do comércio neste final de ano e que foi antecipada e pregada por muitos, não aconteceu e pode não acontecer, ao menos até o final deste mês. O primeiro trimestre do ano que vem ainda é uma incógnita no que diz respeito ao grau de redução de consumo, mas é seguro considerar que alguma forma de retração haverá.O maior equívoco dos que pregavam o caos iminente está na projeção do comportamento dos consumidores brasileiros nos mesmos padrões de comportamento de norte-americanos, ingleses, alemães, franceses ou espanhóis.Existem diferenças culturais, sociais, econômicas e comportamentais significativas separando esses universos e a projeção de similaridades é um grande equívoco, que só o monitoramento contínuo e constante consegue detectar e avaliar e que, se não feito com a acuidade e profundidade necessárias, induz a erros, omissões e decisões precipitadas. A mensagem do mercado, em períodos de grandes transformações parece ser bem clara: decifra-me ou te devoro.Diferentemente de consumidores de economias mais maduras e desenvolvidas, o consumidor brasileiro é jovem e já viveu muitas crises, apesar da pouca idade. Sempre conviveu com quadros de instabilidade e foi forjado numa visão pragmática do aqui e agora, o que o torna menos sensível às mudanças mais estruturais e complexas, como as que estão ocorrendo no cenário internacional. Demora um tempo muito maior para cair a ficha.Em especial nos Estados Unidos, o futuro de grande parte da população depende do que acontece nas bolsas, à medida que sua aposentadoria presente ou futura tem seus valores atrelados ao comportamento do mercado acionário e quedas no valor das empresas e das ações, como ocorreram recentemente, instauram um clima de frustração, cautela, preocupação e retração dramática de consumo, como vem sendo observado no comportamento das vendas do varejo.Na Europa, uma cultura desenvolvida na visão de longo prazo de uma população com idade média muito mais alta molda um consumidor sempre atento aos movimentos econômicos e sociais de natureza estrutural, alterando comportamento de compras e consumo de forma mais rápida, trazendo também conseqüências sérias e imediatas nos resultados do varejo.Estudos recentes no Brasil confirmam esse pragmatismo do consumidor e desenham seu referencial de comportamento, que justifica o que temos assistido no mercado.Para o Ipsos, segundo pesquisa recém-publicada, apenas 11% dos respondentes acompanhavam as notícias sobre a deterioração do quadro econômico global. Outro estudo, apresentado pela Datafolha, sinaliza que 76% das pessoas entrevistadas não desistiram de comprar nada por conta do cenário econômico; dos 21% que alteraram seu comportamento, e desistiram de algo, a concentração maior ocorre com veículos e eletrodomésticos, com 6% e 3% respectivamente.Outro aspecto interessante desse estudo é o fato de que a expectativa positiva para os próximos meses é maior do que quando comparada com a posição anterior. No final de março de 2008, a expectativa de que o futuro seria melhor era a resposta de 53% dos entrevistados; agora, no trabalho de campo realizado entre 25 e 28 de novembro, esse número saltou para 60%.Para explicar o porquê dessas diferenças de comportamento, uma pesquisa realizada pela Gouvêa de Souza & MD na primeira quinzena de novembro e apresentada em um evento promovido na semana passada (“Perspectivas e Tendências do Mercado: Uma nova realidade no consumo e no varejo“) em conjunto com a Deloitte mostra as diferenças de visões dos consumidores brasileiros.Nesse trabalho ficou claro que, para nosso consumidor, sua vida e a visão que têm do que possa acontecer é fundamentalmente balizada pelos sinais que percebe em seu entorno, com sua família, grupos de amigos e vizinhos. As referências sobre o cenário global e mesmo do Brasil interferem muito menos em seu comportamento.Segundo o estudo, 27% dos entrevistados vêem um futuro melhor para o mundo, 30% para o Brasil e 50% para sua família e, por conta disso, tendem a balizar seu comportamento, suas expectativas e compras e consumo a partir da realidade sentida, e não daquela divulgada.Para esses consumidores, enquanto o desemprego não chegar à sua família e a eventual redução de renda não acontecer com gente muito próxima, a realidade não será incorporada e ele não se deixará impactar pelo volume de notícias negativas que são divulgadas.Vale a pena complementar que o pico de 70% de credibilidade do presidente Lula e seu discurso de que a crise no Brasil será menor do que se imagina têm forte impacto na formação do comportamento do consumidor, contribuindo para essa visão mais pragmática de compras.Nesse cenário é importante rever a ênfase que tem sido colocada na divulgação exacerbada dos aspectos negativos de todo processo transformador, pois poderão ter como conseqüência uma certa crise de credibilidade daqueles que insistem em apregoar a iminência do caos. Que talvez não tenha a dimensão que se quer fazer

(posted by Katya Hochleitner)

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