Monday, October 13, 2008

Diante da crise, consumidor paga à vista ou gasta menos

Diante da crise, consumidor paga à vista ou gasta menos
Daniele Madureira e Lílian Cunha, de São Paulo13/10/2008
A crise que está deixando o mercado financeiro mundial em pânico já acendeu o sinal amarelo no ritmo de compras do brasileiro. Pesquisa do instituto Qualibest, feita com exclusividade para o Valor para identificar o potencial de consumo nos próximos meses, apontou que as pessoas continuam animadas com a perspectiva das compras natalinas, mas 55% já mudaram alguma atitude em relação ao consumo depois que a turbulência estourou no mês passado. Nesse sentido, estão pagando mais à vista, gastando menos ou até mesmo evitando cartões de crédito. Muitos estão colocando dinheiro na poupança. Na hora de preencher o carrinho de compras, os itens de limpeza doméstica preferidos são aqueles mais baratos ou em promoção.
O levantamento foi realizado pela internet com 819 pessoas das principais capitais do país e do interior de São Paulo, entre 30 de setembro e 7 de outubro. Dos entrevistados, 52% são homens e 48% mulheres, das classes A (13%), B (50%) e C (37%). A faixa dos 25 aos 35 anos concentra 38% dos consumidores consultados. Outros 29% têm entre 18 e 24 anos, 8% estão na faixa dos 36 aos 40 e 25% têm mais de 40.
"Metade dos consumidores pretende fazer compras neste Natal com a mesma intensidade do ano anterior ou até maior, mas um quarto deles (26%) ainda não decidiu como será o seu ritmo de compras, o que indica certo clima de expectativa no ar", diz Ana Bela Antunes, analista do Qualibest.
Segundo o professor Cláudio Felisoni, coordenador do Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração (Provar-FIA), a apreensão com o cenário atual só não é maior porque as pessoas estão entusiasmadas com a injeção de dinheiro proporcionada pelo 13º salário. "Este Natal ainda não será contaminado pelos efeitos da crise", diz Felisoni. Segundo o coordenador, o tempo natural para que o consumidor assimile no bolso a alta dos juros da economia, por exemplo, varia de seis meses a um ano. "Mas esse espaço é acelerado em tempos de crise, o que significa que o início de 2009 promete retração real no consumo", afirma Felisoni, que divulga nesta terça-feira uma pesquisa do Provar-FIA confirmando essas tendências.
No grupo de consumidores que mudou alguma atitude em relação às compras, 44% disseram ter colocado dinheiro na poupança. A Caixa Econômica Federal (CEF) já sentiu esse movimento. O banco aumentou em 11,6% a captação da poupança em setembro, em relação ao mesmo mês de 2007, atingindo R$ 1,14 bilhão no mês. Só nos primeiros sete dias de outubro foram registrados R$ 540 milhões de captação líquida positiva. Em setembro, foram abertas 315 mil novas contas de poupança, superior à média de 300 mil ao mês, de acordo com a CEF.
Parte das economias, no entanto, deve ser gasta nos próximos seis meses. A maioria dos entrevistados (54%) pela Qualibest pretende adquirir eletrodomésticos ou eletroeletrônicos nesse período. A compra do carro é a segunda no ranking de intenções (30%), seguida por móveis (24%) e imóveis (20%). Apenas 13% dos entrevistados disseram que não pretendem comprar nenhum bem nos próximos seis meses.
A aquisição de eletroeletrônicos e eletrodomésticos pode até acontecer, mas o gasto será maior. Como a maioria dos produtos é montada na Zona Franca de Manaus com componentes importados da Ásia, o dólar tende a fazer os preços subirem, de acordo com a LG.
Nos supermercados, há uma "tensa calmaria", segundo Maria Eugênia Saldanha, diretora-executiva da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Limpeza e Afins (Abipla). "A indústria de produtos de limpeza não sentiu queda nas vendas nem troca de marcas líderes por mais baratas, mas é claro que o consumidor está mais reticente", diz. "Há uma apreensão por conta da crise que pode, sim, resultar em um comportamento de vendas diferente", acrescenta.
Os fabricantes, porém, não estão tão preocupados. Em crises econômicas ocorridas no passado, o consumo migrou para produtos piratas e de empresas informais, diz ela. Agora a situação mudou. "Conseguimos denunciar muitas dessas empresas e, se o consumidor migrar para produtos de menor preço, ainda assim serão fabricados pela indústria formal, o que proporciona uma compensação", afirma.
Pelo relato dos varejistas, a Associação Paulista de Supermercados (Apas) não registrou mudanças significativas de atitude do consumidor até agora. Mas Martinho Paiva Moreira, vice-presidente da Apas e diretor da rede paulista D'Avó, afirma que os consumidores de maior renda estão um pouco reticentes em comprar importados. "De qualquer forma, a meta do setor, de crescer 4,2% no Natal deste ano, permanece", diz Moreira. O alvo, no entanto, é inferior ao aumento de 5,9% do Natal de 2007. A desaceleração já estava prevista antes da confusão em Wall Street, diz ele. "A alta no preço dos alimentos é a maior responsável pelo crescimento mais modesto", diz. Na receita dos supermercados, 40% vêm de alimentos (itens de mercearia) e 30% de perecíveis.
As vendas deste fim de ano devem ser ajudadas, ainda, pelo 13º dos trabalhadores que ocupam as mais de 2 milhões de vagas formais criadas nos últimos 12 meses, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). É nisso que aposta a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio). "Apesar da gravidade da crise financeira mundial, a situação do varejo em 2008 não sofrerá impactos mais profundos até o Natal, devido a fatores como o aumento da massa salarial que compensa", disse Abram Szajman, presidente da entidade, em comunicado.
Americanos começam a se adaptar à "era da frugalidade"
Steve Hamm, Business Week13/10/2008

Numa rua arborizada de New Hope, Pensilvânia, uma revolução silenciosa pode estar tomando forma na cultura americana. Ali, uma família de quatro pessoas mora em uma casa branca de estilo colonial, de uma maneira que no passado teria sido considerada genuinamente americana, mas que mais recentemente vinha sendo vista como claramente bizarra: eles são frugais.
Conheça Leah Ingram, Bill Behre e as filhas Jane, 13, e Annie, 11. Eles vão a pé para a maioria dos lugares, raramente comem fora de casa e às vezes compram roupas em lojas produtos de segunda-mão. Eles também apagam a luz toda vez que saem de um cômodo de casa.
A história deles não é a de falta de sorte numa recessão. A família Ingram-Behre é de classe média estável, tem emprego e não está especialmente ameaçada pelos problemas que afligem Wall Street. Behre, 43, é reitor do College of New Jersey, enquanto Leah, 42, é uma bem-sucedida escritora freelance e especialista em etiqueta. Eles não têm dívida no cartão de crédito.
Isso agora. Pouco mais de um ano atrás, a família era dominada pela cultura americana do consumo desenfreado. Durante a disparada dos preços residenciais e do crédito fácil, eles tomaram um empréstimo imobiliário de US$ 101 mil sobre uma casa anterior e gastaram muito na melhoria de seu estilo de vida - fizeram três cruzeiros marítimos em dois anos e levaram as crianças a passeios anuais pela Disney World. "Depois do 11 de setembro, consumir se tornou algo patriótico e nos tornamos tão patriotas quanto todo mundo", lamenta Behre, na cozinha de casa depois de uma refeição com frango frito.
Ingram e Behre são os arautos de uma nova era da frugalidade. Pessoas que consumiram demais na última década estão agora rejeitando estilos de vida extravagantes. Elas estão gastando menos e de maneira mais sábia. Algumas estão colocando suas finanças em ordem. Outras temem perder seus empregos, chocadas pelos prejuízos que tiveram com seus investimentos, ou estão se encolhendo em meio à incerteza geral.
As economias já estão aparecendo em números; este trimestre poderá registrar a primeira queda no consumo pessoal em 17 anos. E com o crédito difícil e os americanos atolados em dívidas de US$ 2,6 trilhões, os empréstimos tomados pelo consumidor caíram em agosto, a primeira contração do tipo desde 1991. Menzie D. Chinn, que leciona economia na Universidade de Wisconsin, acredita que os consumidores ficarão cinco anos sem gastar livremente.
O que nos leva ao que John Maynard Keynes chamou de paradoxo da economia. O que é bom para o indivíduo, afirmou o famoso economista, pode desencadear ou aprofundar uma recessão. Mas isso não detém aqueles que estão entrando numa fase de contenção de gastos. "Não posso ajudar a economia", diz Kim Schultz, uma moradora de Avoca, Michigan, que junto com o marido, Jon, deve US$ 40 mil no cartão de crédito. "Eu preciso me ajudar." Por outro lado, essa austeridade recente poderá - e vale enfatizar o "poderá" - reprogramar os americanos para se tornarem poupadores, em vez de gastadores. E isso vai ajudar a economia a encontrar um ritmo mais sólido no longo prazo.
Economizar é uma coisa que entrou e saiu de moda desde a fundação da república. No livro escolar "McGuffey Reader", do século XIX, Benjamin Franklin era apresentado como um modelo de virtude por seus hábitos frugais. Mais tarde, pessoas que passaram pela Grande Depressão tiveram suas vidas marcadas pela experiência. Um caso típico é Bernard Handel, um morador de 82 anos de Poughkeepsie, Nova York, que cresceu pobre no Bronx. No começo dos anos 1930, seu pai ficou vários anos sem conseguir um emprego, depois que sua mercearia falira. Até hoje, embora Handel tenha ficado muito rico, ele compra alimentos com cupons, dirige um Honda e usa o metrô em vez de táxi. "Não suporto jogar dinheiro fora", diz ele.
Os filhos "baby-boomers" de Handel cresceram sem cicatrizes psicológicas da Depressão. E os filhos dos "boomers" chegaram à puberdade numa era de abundância, crédito fácil e um gosto pelo luxo. Portanto, não admira que a necessidade súbita de se fazer poupança apareça como um choque angustiante para muitos. Alguns estão pedindo um esforço maciço de educação pública, a exemplo do que é feito em campanhas contra o fumo e contra direção sob influência do álcool, que vêm sendo tão bem-sucedidas. "Queremos construir uma cultura mais receptiva à poupança, de modo que isso não seja visto como algo estranho, mas como uma atitude a ser estimulada", diz Barbara Dafoe Whitehead, co-autora de "For a New Thrift: Confronting the Debt Cultura" (algo como "Para uma Nova Economia: Confrontando a Cultura da Dívida"), um novo relatório do centro de estudos The Institute for American Values.
É claro que há momentos estranhos na jornada rumo a um estilo de vida poupador. Para demonstrar isso, Bill Behre pega um celular e o torce para frente e para trás, até que uma luz comece a brilhar nas imitações de diamantes coladas pela filha Annie, antes de ela ganhar um novo aparelho. O próprio celular de Behre estragou em uma tempestade, de modo que ele está usando esse mais velho, enquanto não recebe um novo de graça da operadora em março. "Não há nada mais frugal do que isso", diz.
Foi Ingram que começou. Ela foi criada por uma mãe poupadora, mas quando se casou com Behre, a influência da mãe se perdeu e ela juntou US$ 30.000 em dívidas no cartão de crédito. Controlar os gastos foi algo casual até o começo dos anos 2000, quando a família embarcou em uma onda de compras desenfreadas.
As coisas quase fugiram de controle depois que eles conseguiram uma casa melhor. Apesar de "assaltarem" seus fundos de pensão para ajudar na entrada da casa, eles acabaram com prestações mensais maiores. Ingram lembra-se do dia, 24 de maio de 2007, em que eles venderam a casa velha e perceberam que a família ficaria com apenas US$ 60 mil, muito embora o valor do imóvel quase tivesse dobrado para US$ 490 mil. "Eu fiquei nauseada quando percebi o que nossos gastos sem controle haviam feito", diz ela. Ingram e Behre fizeram um pacto: eles iriam viver de uma maneira mais frugal. Então, deram a notícia para as filhas. Era o fim dos cruzeiros e das viagens à Disney World. Elas teriam uma mesada de apenas US$ 20. E iriam a pé para a escola, o supermercado, a casa dos amigos.
Num primeiro momento, as meninas viram a decisão com curiosidade. Mas depois, perceberam que suas vidas confortáveis e materialistas estavam realmente mudando. Annie, cujo hábito de fazer compras por prazer não encontrava resistência dos pais, subitamente teve de recorrer a uma loja de roupas de segunda-mão chamada Plato´s Closet. Agora, as garotas estão resignadas com o novo estilo de vida.
Manter-se no programa exige vigilância. Quando Ingram usa o carro, ela calcula os custos relativos de percorrer uns poucos quilômetros a mais para conseguir gasolina mais barata. E nas raras ocasiões em que eles jantam fora de casa, ela se sente culpada. "Quero continuar sendo responsável", diz ela. "Não quero ter uma recaída." Até agora, o plano está funcionando. Nos velhos dias, a família estourava o cheque especial em cerca de US$ 300 por mês. Agora, eles terminam o mês com um superávit médio de US$ 800. Desde que fizeram as grandes mudanças, eles aceleraram os pagamentos de um empréstimo para a compra do carro e já conseguiram quitar a dívida.
Ingram começou a fazer um blog, "The Lean Green Family", em que ela encoraja outras pessoas a adotarem um estilo de vida mais frugal. Ela e Behre dizem que aprenderam lições valiosas. Uma delas é ser flexível: permita-se um prazer de vez em quando. Outra é ter um objetivo. Eles estão economizando para um novo quarto de recreação. "Ser frugal é como fazer uma dieta", diz Behre. "É mais sustentável se você tem uma meta."
Com o medo de o desemprego aumentar, muitos outros americanos vão descobrir a duras penas seus próprios caminhos rumo à frugalidade. Isso já aconteceu a Ned Penberthy, 53, um vendedor que mora em Pelham, Nova York. Recentemente ele conseguiu um novo emprego, com um salário-base menor, e desde então vem levando um vida frugal. Penberthy diz que estará nessa por um longo tempo. Ele instalou lâmpadas caras, mas mais econômicas, em sua casa e substituiu alguns de seus utensílios domésticos por outros mais eficientes. Para ele, cada centavo conta. Por exemplo, ele mudou da espuma de barbear para o creme de barbear. Ele calcula que economiza com isso US$ 6 por ano. "Não é muito, mas há um benefício psicológico", diz ele.
Assim como muitos "baby-boomers", Penberthy tem um pé-de-meia, mas muitas pessoas na casa dos 20 a 30 anos não têm muito a que recorrer. Para entrar no caminho, elas precisam aprender a diferença entre necessidade e gastos supérfluos. "Elas precisam voltar à hierarquia das necessidades do psicólogo Abraham Maslow - comida, roupas, moradia e transporte", diz Kristine E. Miele, uma planejadora financeira. Ela está oferecendo aulas de "Lições para a Vida", fazendo pessoas mais jovens gradualmente perderem o vício dos gastos desnecessários.
No passado, os consumidores saiam para as compras no momento em que o sol nascia. Mas e desta vez? Pesquisadores de mercado que tentam adivinhar a psique do consumidor estão colhendo sinais de que as atitudes estão mudando. Recentemente, a Booz & Co. realizou uma pesquisa com quase 1 mil lares. Entre outras constatações, 43% das pessoas pesquisadas responderam que estão comendo mais em casa e 25% disseram que estão cortando os gastos com hobbies e atividades esportivas. Nos dois casos, a maioria das pessoas disse que continuará fazendo isso mesmo quando a economia se recuperar. Da mesma maneira que o aumento dos preços da gasolina levou muitos americanos a trocarem seus veículos utilitários esportivos (SUVs) por carros pequenos e mais econômicos, o colapso do valor das moradias e dos planos 401 (k) vai fazer os consumidores pensarem duas antes de se dirigirem para um shopping center.



Gabriel Schimchak

1 comment:

Anonymous said...

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