Monday, October 13, 2008

Varejistas americanos se preparam para um Natal difícil

Varejistas americanos se preparam para um Natal difícil
Miguel Bustilloe Ann Zimmerman, The Wall Street Journal09/10/2008
Esqueça Charles Dickens - para os varejistas americanos, o Natal deste ano está mais para Charles Darwin.
O acentuado declínio nas vendas de setembro, divulgado ontem, é um prognóstico desanimador para a temporada de Natal, que já estava sendo considerada a pior em quase duas décadas.
Quedas acentuadas nas vendas obrigaram muitas redes varejistas americanas, como Target Corp., Nordstrom Inc. e JC Penney Co., a reduzir suas previsões de lucros para o terceiro trimestre. Muitas lojas estão fechando, agora que as redes tentam reforçar seus resultados financeiros abandonando as unidades de desempenho mais fraco.
Os resultados mensais de vendas são um termômetro essencial para se saber como o consumidor americano está - ou não está -gastando dinheiro, e os números de setembro mostram a dura realidade econômica de um país que está cortando todas as gorduras drasticamente e fugindo dos artigos extravagantes em favor dos produtos básicos de baixo preço. Os gastos discricionários estão secando, agora que a população enfrenta preços mais altos de alimentos e combustíveis e uma queda no valor dos imóveis e dos planos de aposentadoria.
Para alguns consumidores, fazer compras não é mais um passatempo agradável, mas sim uma caça para suprir as necessidades básicas da vida. Outros estão começando a ver os gastos excessivos como uma imoralidade.
Wendy Modlin, moradora de Manhattan e mãe de duas filhas pequenas, disse que mesmo que pudesse, não compraria artigos de luxo neste momento. "Eu não entraria em um uma loja para comprar a bolsa da moda. Seria uma atitude horrível, como ir a um enterro de vestido vermelho", disse ela.
A queda nas vendas do mês passado chegam num momento em que o público americano foi atingido diariamente pelas notícias alarmantes de quebras de bancos, grandes perdas na bolsa e esforços governamentais de conter o estrago. O tombo foi pior nas lojas de departamentos. As vendas nas lojas abertas há mais de um ano caíram 12% em relação a setembro de 2007 na J.C. Penney, por exemplo.
Os consumidores continuam a preferir as lojas com maiores descontos, mas até mesmo as vendas da Wal-Mart Stores Inc. cresceram apenas 2,4% em setembro - resultado que fica dentro das projeções da rede barateira, mas é um pouco inferior ao esperado pelos analistas.
Segundo um índice da Thomson Reuters, vendas no varejo americano, excluindo a Wal-Mart, subiram meros 0,4% em setembro em relação ao ano anterior.
Na Target, uma exceção entre as grandes lojas populares, as vendas caíram em 3%, o dobro do esperado. Alguns especialistas vêm essas quedas como um aviso de que ainda haverá muito prejuízo, mesmo para as redes de baixo preço, se a economia continuar se deteriorando.
Esse ambiente negativo para os negócios apresenta uma oportunidade para as redes mais fortes, que estão aproveitando a oportunidade para pressionar os concorrentes mais fracos.
Eduardo Castro-Wright, presidente das operações americanas da Wal-Mart, disse ontem ao Wall Street Journal que a empresa está bem posicionada para aumentar sua participação no mercado americano, que já é enorme, durante a próxima temporada de Natal. As lojas da rede lançaram reduções de preços e outras promoções.
Na semana passada a Wal-Mart disparou o primeiro tiro em uma possível guerra pelo preço dos brinquedos, que pode ocorrer neste trimestre, cortando em até 40% os preços de dez de seus brinquedos mais vendidos - um golpe que seus concorrentes estão lutando para rebater.
"Acreditamos que as eficiências que geramos nos últimos anos nos dão a capacidade de sermos mais agressivos na nossa política de preços", disse Castro-Wright.
A Best Buy Co. rede varejista de produtos eletrônicos de consumo, vem ganhando mercado o ano todo. Uma estratégia que a concorrência não conseguiu igualar: ela oferece vendas a prazo sem juros em artigos que custam US$ 999 ou mais, tais como sistemas de home theater.
No início do ano as ações das redes varejistas estavam em alta, pois os investidores apostavam que elas seriam as primeiras beneficiadas quando o clima econômico melhorasse. Em vez disso, essas redes foram das mais atingidas pela crise financeira global.
As vendas de setembro mostram claramente que o público americano não está disposto a estimular a economia do país com seus gastos, ao contrário do que ocorreu logo após os ataques de 11 de setembro de 2001, ajudando a manter a recessão daquele ano curta e rasa. Agora, porém, os consumidores são uma grande parte do problema.
Uma análise de transações de cartão de crédito, divulgada esta semana pela MasterCard Advisors, concluiu que em setembro os consumidores americanos gastaram menos em todas as categorias, em comparação com o ano anterior - 4,9% menos em hotéis, 5,5% menos em roupas, 13,3% menos em moveis e 13,8% menos em aparelhos domésticos e eletrônicos.
Alguns analistas conservam a esperança de que os fracos resultados de setembro não sejam prenúncio de um resultado desastroso na temporada de Natal, como tantos estão temendo. Eles advertem que talvez os consumidores, sentindo o aperto, estejam economizando para o Natal, e que a confiança dos consumidores pode melhorar depressa se o público se convencer que o pior já passou no atual drama que se desenrola em Wall Street.
"É óbvio que foi um mês muito difícil", disse Myron E. Ullman III, diretor-presidente da Penney. "Mas a temporada de Natal está chegando, e é uma época em que os shopping centers costumam apresentar resultados excelentes. Ainda não estamos prontos para desistir. " (Colaborou Cheryl Lu-Lien Tan)

Gabriel Schimchak

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